STU participa de homenagem a corpos negros usados em estudos na Unicamp

No dia 08 de abril, o STU esteve presente em uma homenagem no Teatro de Arena Unicamp, da 59ª turma de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Coletivo Quilombo Ubuntu, aos cadáveres negros usados no laboratório de anatomia da universidade.

A iniciativa de fazer essa homenagem partiu dos alunos cotistas, pretos e pardos e é muito importante para universidade, pois as cotas são fruto de muita luta dos estudantes, também apoiados pelo sindicato.

“O STU está sempre participando das lutas raciais, e esta em particular é um marco, porque a gente vê que estes alunos cotistas estão trazendo uma outra visão para dentro da universidade”, relata a Coordenadora Geral do STU, Marli Armelin que esteve representando o sindicato na homenagem.

Foi um dos primeiros atos do movimento estudantil pós-pandemia, “entendo que os professores, funcionários e alunos/as negros/as se sentiram reconfortados de verem-se em pares e num evento tão bonito, cercado de música e poesia”, diz Marina Rebelo Tavares, que também esteve representando o STU na homenagem.

A Coordenadora Geral do STU, Marli Rodrigues Armelin, e a Coord. de Formação e Política Sindical e de Negros e Negras Marina Rebelo Tavares.

COMO SURGIU A IDEIA DA HOMENAGEM

Você sabia que a maioria dos cadáveres usados para estudo nos laboratórios de anatomia da Unicamp são negros?

Essa turma de medicina despertou a atenção para questão dos cadáveres negros no laboratório no ano passado, durante uma aula sobre ética médica, racismo na universidade e na sociedade.

“Ao comentar em uma aula de ética sobre essa realidade, alguns colegas brancos vieram me falar que nunca tinham notado que quase todos os cadáveres eram negros. E eu pensei: como uma dor que dói tanto na gente, não é notada pela maioria das pessoas? E não foi notada durante muito tempo, porque eu sou da turma 59 e até então esse assunto não tinha sido discutido abertamente”, desabafa a aluna de medicina, Janaína Alves da Hora.

A homenagem, iniciativa dos estudantes negros da turma, foi apoiada pela Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da Unicamp e pelo Centro Acadêmico Adolfo Lutz, que reúne estudantes de medicina.

“A grande importância dessa cerimônia foi que juntou-se diferentes pessoas da universidade, com a presença do reitor, professores, estudantes, e chefias. Nós reafirmamos a necessidade que a Unicamp seja cada vez mais diversa e tenha representações diferentes da sociedade brasileira”, afirma a Diretora Executiva de Direitos Humanos da Unicamp, Silvia Santiago.

IMPORTÂNCIA DO ATO

Este ato antirracista e de resistência foi potente, comovente e teve como objetivo promover a reflexão sobre essa realidade.

“Esse ato demonstra que a política de cotas é só um passo, e é potente exatamente porque muda o eixo da universidade. Mudando sua composição, muda os olhares sobre seus objetos, seus mecanismos, suas pesquisas e seus objetivos, ficando ainda mais próxima da realidade brasileira, a quem deve servir”, complementa Marina Rebelo Tavares, que esteve representando o STU na homenagem.

Para a estudante de medicina Janaína Alves da Hora, o objetivo desta homenagem foi de algum modo tentar confortar os próximos alunos e promover a reflexão de todos/as.

“A universidade nunca mais vai ser a mesma, depois das cotas a universidade tem mudado e tem tido uma outra cara. As pessoas não viam estudantes negros em curso de medicina, e hoje a gente vê esses alunos com essa visão”, completa Marli Armelin, coordenadora geral do STU.

A reflexão que os estudantes trouxeram à tona fala muito mais do que corpos negros utilizados como pesquisa. Ela entra também num aspecto de qual a importância desses corpos na sociedade.

RACISMO INSTITUCIONAL

A gente sabe, e a população negra das universidades sentem na pele, nas conversas, nas piadinhas, e em muitas dificuldades o racismo institucional que existe na nossa sociedade.

“Eu me senti feliz por mais um passo que foi dado nesse caminho de luta. Foi uma honra organizar uma homenagem a essas pessoas e ser a precursora dessa ação, porém, fico chateada por essa discussão nunca ter sido feita”, fala Janaína Alves da Hora, estudante da 59ª turma de medicina da Unicamp.

Apesar do movimento negro ter conquistado muitos avanços, como as cotas raciais, o racismo institucional ainda existe, e afeta diretamente. As consequências que essa homenagem representa são a abertura de um caminho que busca encontrar curar alguns ferimentos que estão abertos há milhares de anos.

Estudantes com o Prof. de anatomia Wagner José Fávaro que apoiou a homenagem.

INAUGURAÇÃO DA PLACA HONROSA

Na ocasião também foi inaugurada uma placa honrosa que foi anexada no Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia da Unicamp (IB).

A mensagem que diz na placa carrega muito significado, traz o sentimento de como os estudantes enxergam os corpos que serão estudados. “As mãos pretas que tocam esses corpos com sede de conhecimento são as mesmas que cerram e erguem os punhos com gana por justiça. Por vocês, por nós, por aqueles que virão Tudo é ancestral, respeito aos nossos”, trecho que consta na placa honrosa.

Na homenagem foi distribuído um marca páginas comemorativo, com um QR-Code que dá acesso ao texto da placa. Para ler o que foi escrito pelos alunos e alunas pretas da 59ª turma de medicina da Unicamp com o Coletivo Quilombo Ubuntu, CLIQUE AQUI!

Janaína Alves da Hora – aluna da 59ª turma de medicina da Unicamp junto a placa instalada no laboratório.

MÚSICA E FORA BOLSONARO ENCERRAM A HOMENAGEM

O evento foi finalizado com a música Juízo Final, composição de Nelson Cavaquinho/Elcio Soares, que em uma das estrofes diz “quero ter olhos para ver a maldade desaparecer”, o público presente complementou com “e o Bolsonaro também”.

Atos como este mostram que há uma grande jornada para que a universidade seja um espaço inclusivo, e não de opressão para as populações marginalizadas.

“Eu me sinto orgulhosa por ter me movimentado e com isso ter movido tantas pessoas e instituições por esta causa”, completa a aluna de medicina da Unicamp Janaína Alves da Hora que disse como se sentiu após a homenagem.

A funcionária Aparecida do Carmo Miranda, mais conhecida como Tida, foi a única funcionária a falar no ato. Após sua fala foi fortemente aplaudida.

Aparecida do Carmo Miranda – funcionária do IB/Unicamp.
Música ao final da homenagem com Douglas Alonso – professor e percussionista, Fabiana Cozza – cantora e doutoranda no IA (meio), Ilessi – compositora e doutoranda no IA.
Marília Corrêa – cantora e compositora.

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