USP anuncia que irá rediscutir o processo de eleição para reitor

Texto: Rodrigo Cruz

Foto: DCE-Livre da USP

A reitoria da Universidade de São Paulo (USP) propôs na última quarta-feira (10) a realização de uma reforma estatutária para alterar o modelo de eleições para o cargo de reitor. Em carta dirigida à comunidade universitária, o reitor João Grandino Rodas considerou “indispensável agregar mais e mais pessoas no aprimoramento e na condução dos destinos da universidade” e afirmou que “chegou a hora de dar o passo decisivo para ampliar a democracia na universidade, se esse for o interesse da comunidade”.

Ainda de acordo com a carta publicada no boletim “USP Destaques”, as manifestações e sugestões das congregações das unidades e órgãos da USP devem ser enviadas à Secretaria Geral da Universidade até o dia 20 de setembro. Para subsidiar a discussão sobre o tema, foi criada uma página com documentos que tratam do tema da democracia na USP. As sugestões serão analisadas na sessão do Conselho Universitário, instância máxima de decisões na universidade, que ocorre no dia 1º de outubro.

Gestão é criticada pelo autoritarismo

Atualmente, as eleições para reitor da USP ocorrem por um processo indireto, compostas por dois turnos. No primeiro, representantes de estudantes, funcionários e professores elegem oito candidatos. No segundo, membros do Conselho Universitários e dos Conselhos Centrais escolhem três dos oito candidatos apresentados no primeiro turno e compõem a chamada “lista tríplice”, que é encaminhada ao Governador do Estado, responsável pela escolha do reitor.

O processo, tão antidemocrático quanto o que ocorre na Unicamp, é questionado há anos pelos movimentos estudantis e sindicais da Universidade, que reivindicam eleições diretas com paridade entre as três categorias e sem intervenção do governo estadual. O próprio Rodas é citado como exemplo da falta de democracia deste processo. Ele ficou em segundo lugar na lista tríplice resultante do processo de consulta à comunidade universitária realizado em novembro de 2009 e, ainda assim, foi nomeado reitor pelo então governador José Serra (PSDB).

Não bastasse o começo problemático, a gestão de Rodas também tem sido marcada por medidas autoritárias como a entrada da Polícia Militar no campus do Butantã em 2011, seguida de uma greve estudantil duramente reprimida, além da recente instalação de uma Comissão da Verdade sem a participação dos estudantes.

DCE Livre da USP: “Nenhuma confiança em Rodas”

Em nota, a atual gestão do DCE-Livre Alexandre Vannucchi Leme declarou que não possui confiança em João Grandino Rodas e destacou o fato de que, em sua carta, o reitor ter sugerido o fim da autonomia de estudantes e funcionários na eleição de representantes para os órgãos centrais da USP, “o que é um absurdo, dado que tal autonomia foi conquistada historicamente e é um direito”. Apesar disso, a entidade reconhece que o anúncio é resultado da própria luta e pressão de todos que lutam ou lutaram por democracia na universidade.

Adusp afirma que proposta concreta de eleição direta já existe

Para a Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), o método adotado por Rodas para coletar opiniões da comunidade acadêmica ignora o acúmulo do movimento de estudantes, professores e funcionários que há anos lutam pela democracia na Universidade. “Ele fala difusamente em saber qual é a vontade da comunidade, e cria uma página para que qualquer pessoa coloque lá qualquer tipo de proposta, quando tem uma proposta concreta protocolada no conselho com o número mínimo de assinaturas para ser apreciada”, declarou ontem o Professor Ciro Teixeira Correia, presidente da entidade, ao Portal G1.

Sintusp deve se pronunciar na próxima semana

Por telefone, a assessoria de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) informou que a entidade deve debater a carta lançada por João Grandino Rodas somente na próxima semana. A assessoria frisou que, historicamente, o Sintusp defende as eleições diretas para reitor com paridade entre as três categorias.

Unicamp deve rediscutir consulta para reitor no segundo semestre

Em atividade organizada pela Adusp em parceria com a Associação de Pós-Graduandos Helenira ‘Preta’ Rezende (APG-USP), o DCE-Livre Alexandre Vannucchi Leme e o Sintusp no último dia 11/06 no Intituto de Física (IF) da USP, o vice-reitor da Unicamp Álvaro Crosta afirmou que a reitoria do Professor José Tadeu Jorge se orgulha do método utilizado atualmente pela Universidade para a escolha do reitor. “Nós consideramos esse processo um estágio absolutamente essencial para a democracia interna na escolha dos dirigentes. Nós temos bastante orgulho dele”.

Apesar disso, Crósta afirmou que o modelo será rediscutido durante uma reforma estatutária, que será promovida ainda nesta gestão.  “O nosso estatuto, como o de muitas universidades públicas brasileiras, é originário da década de 1960 e, portanto, contém resquícios do tempo da Ditadura Militar que nós queremos remover de uma vez por todas”. Segundo Crósta, a discussão da reforma estatutária da Unicamp acontecerá no segundo semestre deste ano. Uma reportagem completa sobre este evento pode ser conferida aqui.

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