Dia 1º de dezembro foi um marco histórico na luta travada pelo STU contra o racismo e todas as formas de discriminação e opressão, dentro e fora da Unicamp
Realizamos o plantio da árvore ancestral, Baobá, com uma cerimônia religiosa de matriz africana conduzida pelo Babalorixá Moacyr de Xangô e sua família de axé.
O rito seguiu o propósito de preservar essa forte tradição de cultivo da árvore símbolo de cura, fartura e sabedoria para o povo africano. E foi feito com cantos, rezos e intenções de bênçãos para o espaço, as pessoas presentes e, principalmente, para a entidade e sua categoria.
Pai Moacyr é presidente do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Campinas e, como militante defensor das Religiões de Matriz Africana, aproveitou a celebração para pedir paz e sabedoria para a nossa nação.
Em sua bênção, diante do Baobá, desejou que 2023 seja um ano em que o respeito e a tolerância permeiem as nossas relações e que a justiça social se faça presente.
Para a coordenadora geral do STU, Marli Armelin, essa cerimônia vai além do significado de resgate da ancestralidade. “É construir dentro da Universidade branca um espaço da negritude e incentivar a cultura de paz”.
A coordenadora explicou que já vivemos tanto preconceito e discriminação dentro da universidade, de estudantes e docentes brancos contra estudantes e docentes negros, respectivamente, que o único caminho “é incentivar as políticas públicas de inclusão e trazer cada vez mais a negritude para dentro da universidade”.
O Baobá foi plantado próximo da “esquina de chegada” à sede do STU exatamente para que as pessoas possam ver a árvore símbolo da resistência negra.
“A partir de agora, a sede do sindicato, que foi construída com esforço e contribuição valorosa de cada associado/a, tem em sua entrada uma árvore milenar que marca a resistência histórica e a luta do povo negro por liberdade, respeito e direitos, valores pactuados e defendidos desde à fundação do STU”, disse a coordenadora geral, Elisiene Lobo.
Elisiene disse que o plantio significa também o nosso compromisso classista de seguir firme, como o Baobá, na defesa de uma Unicamp mais inclusiva e solidária e pela valorização do/a servidor/a.
Resistência negra dentro e fora da Universidade
É visível que a maioria dos/as trabalhadores negros/as estão em cargos mais precarizados e de menor rendimento. Aqui na Unicamp mesmo, há uma baixa representação de pretos e pardos em cargos de chefia.
Essa discrepância é apontada pelo Sistema Integrado de Dados Institucionais, o S-Integra, que revela que dos 1133 servidores/as que ocupam cargos de gestão na Unicamp cerca de 16,68% se declaram negros/pardos – representando apenas 189 funcionários/as.
Essa é só mais uma prova da necessidade de fortalecer as bandeiras das políticas de cotas para acesso aos serviços públicos e de garantia de mecanismos justos e democráticos de incentivo à progressão na carreira.
Por isso, para o diretor Robson Almeida o ensinamento que o plantio nos remete é entender que devemos continuar sendo resistência. “Essa é a ideia da presença do Baobá dentro da Universidade, ainda que sejamos poucos dentro da Universidade. O STU quer que todos os trabalhadores negros se sintam representados.”.
Almeida vai mais além e declara que o Baobá é um símbolo de resistência negra e, assim como a árvore, o sindicato também é um espaço de resistência. “O Baobá é um marco que representa a resistência negra no mundo, não só na África ou no Brasil, e entendemos que o STU, por ser uma entidade engajada nas questões raciais e por direitos, que são negados há séculos aos negros, é muito simbólico ter esse marco aqui na sede.”.
A cerimônia contou com a valiosa participação da presidenta da ADunicamp, professora Maria Silvia Viccari Gatti, que saudou a diretoria pela importante iniciativa de resgate da história e da cultura negra e aproveitou para se colocar como um elo nesta corrente contra o racismo institucional.
Na quinta-feira, os sonhos de inúmeros militantes negros/as, que contribuíram e ainda contribuem com a luta antirracista em defesa de uma sociedade mais justa e igualitária, foram depositados aos pés da árvore milenar que guarda a sede do STU.