Quantas mortes ainda serão necessárias?
O Fórum das Seis – que congrega as entidades sindicais e estudantis da Unesp, Unicamp, USP e Centro Paula Souza (Ceeteps) –, reunido nesta data, manifesta veemente repúdio aos terríveis fatos ocorridos no Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, na manhã de 6/5/2021.
Conforme relatos dos moradores, eles foram acordados pelo barulho de intenso tiroteio, em uma operação da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), com o apoio da CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais), e foram submetidos a várias horas de verdadeiro horror, que resultaram na morte de 27 civis e um policial. Os relatos de familiares e testemunhas, quase sempre sob anonimato, por temor de represálias, apontam que a operação policial militar mais letal da história do Rio de Janeiro foi uma chacina.
A tentativa de justificar as mortes sob a alegação de que as vítimas seriam “criminosos”, argumento usado inclusive pelo vice-presidente da República, não se sustenta, uma vez que não há pena de morte em nosso ordenamento jurídico, nem os agentes de segurança do Estado estão autorizados a executar quem quer que seja, criminoso ou não.
Como tão bem pergunta a canção de Bob Dylan, dedicada às vítimas da guerra do Vietnã, “quantas mortes ainda serão necessárias, para que se saiba que já se matou demais”?
Para o povo negro e pobre das comunidades do Rio de Janeiro e de todo o país, já passou da hora de termos respostas a esta indagação.
O Fórum das Seis subscreve nota divulgada por um conjunto de entidades do Rio de Janeiro (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSceqrdYTOobhYXSefhzDl_Svz8doP55rlkne_Icana7iUiQwQ/viewform) para clamar pela rigorosa apuração dos fatos e punição de todos os responsáveis na forma da lei.
Diz o texto:
“Como se já não bastasse estarmos morrendo por uma doença pela qual já existe vacina, ainda somos submetidos a um cotidiano de brutal violência por parte do Estado. Não há outro nome para o que acontece nas favelas e periferias. O que vivemos é genocídio contra a população negra desse país. Diante dessa realidade de extermínio, seguimos com o mesmo questionamento: quais vidas importam?
Será que em bairros nobres localizados na Zona Sul da cidade do Rio ou em condomínios luxuosos na Barra da Tijuca o método de suspeição é o mesmo? Será que se sentem coagidos ou com medo de serem acordados por uma operação policial?
O genocídio contra corpos negros e favelados segue naturalizado e sem causar espantos. As instituições públicas, como em um acordo tácito, seguem silenciosas, sem criar qualquer tipo de mecanismo eficaz que possa frear o extermínio desses mesmos corpos.
Exigimos explicações e questionamos: como o Estado pretende atuar no território depois dessa chacina? Como recuperar o trauma das milhares de pessoas que foram submetidas ao terror policial? Como os familiares das vítimas serão amparados? Quais os mecanismos institucionais de prevenção às ações como as que vivenciamos no dia de hoje? Esperamos respostas!”
São Paulo, 10 de maio de 2021.
Fórum das Seis
Mocao-F6-Repudio-ao-massacre-de-Jacarezinho-10-5-2021-1