O STU realizou nesta terça-feira (2), em parceria com a Adunicamp e o DCE Unicamp, um debate sobre as mobilizações populares que tomaram as ruas do Brasil nas últimas semanas. O Professor Paulo Cesar Centoducatte (Adunicamp) abriu a roda de conversa e destacou a utilização das redes sociais para a convocação dos protestos como uma das principais novidades das novas manifestações em relação a outros momentos históricos. Paulo também caracterizou como difuso o caráter do movimento. “Há uma diversidade de pautas que exprime um sentimento de insatisfação geral. Não há uma pauta única. Embora o levante tenha começado com o tema do transporte público, ele continuou mesmo depois que a tarifa foi revogada”.
Na opinião da estudante de Ciências Sociais Diana Nascimento (DCE Unicamp), as mobilizações tiveram início na luta contra o aumento das passagens de ônibus porque o transporte coletivo é o direito social que garante que a população tenha acesso a outros direitos como saúde, cultura e educação. Como o atual modelo de gestão do transporte público é baseado em concessões à iniciativa privada, precarização e tarifas abusivas, criou-se uma situação de exclusão que gerou a insatisfação popular. “É importante lembrar que isso não é exatamente uma novidade, visto que a juventude está nas ruas há muitos anos lutando pelo passe livre e contra os sucessivos aumentos da passagem”.
O diretor do STU Wilson Kawai (IEL) comentou o amplo sentimento anti-partidário manifestado pela população durante os protestos. Para ele, a exibição de símbolos nacionais como a bandeira e o hino, as roupas de cor verde e amarela e as músicas que fazem alusão às torcidas organizadas têm a ver com a única experiência de massas vivida pela maior parte das pessoas que está indo às ruas: o futebol. “Assim como na Copa do Mundo e na Copa das Confederações, nessas horas o que vale não são os diversos times (Palmeiras, São Paulo, Corinthians) e sim a seleção brasileira. De certa forma, é assim em relação aos partidos. Eles não importam agora. O que importa é o Brasil. É a união em prol de um Brasil melhor”.
Para Paulo Gouveia (CLE), diretor do STU, as mobilizações rompem um longo período de refluxo iniciado com a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo em 2002, quando setores importantes do movimento social ligados ao partido deixaram de disputar a consciência da classe trabalhadora e passaram a concentrar forças na disputa dos rumos do governo de Frente Popular.
Embora o tema do transporte público seja reconhecido como estopim do movimento, Paulo lembrou que o tema da violência policial também está no cerne dos debates, uma vez que a brutalidade da Polícia Militar foi o fator responsável por mudar a correlação de forças até então estabelecida pela mídia e pelas autoridades em relação ao Movimento Passe Livre.
“Quando a violência policial passou a atingir pessoas comuns que não estavam nos protestos e até jornalistas, a sociedade deixou de ver os atos pela redução da tarifa como obra de um grupo de jovens baderneiros. Naquele dia, a polícia mostrou na Avenida Paulista o que faz cotidianamente nas periferias”.