Em entrevista ao jornal Correio Popular, em 07 de maio, o reitor Knobel disse que teve que “puxar o freio de mão” em relação a gastos por causa da “crise financeira” da Universidade. E assumiu que adotou medidas impopulares em sua gestão. Só faltou dizer que sua postura foi pautada por decisões políticas que favoreceram e, muito, aqueles que estão no teto salarial da Unicamp, já que tiveram seus salários aumentados em 3,5%, enquanto a maior parcela de servidores amarga falta de reposição da inflação há anos.
Confira a reportagem completa abaixo.
Promover mudanças têm preços. Muitas vezes, as conquistas de um lado vêm acompanhadas por pressões do outro. Antes mesmo de completar seu primeiro ano à frente da reitoria da Unicamp, no mês passado, Marcelo Knobel já sentiu na pele o peso de estar no comando da administração de uma das mais importantes universidades do Brasil. Com 49 anos, nascido em Buenos Aires, na Argentina, e bacharel em Física, o doutor em ciências é o 12º na linha de sucessão de Zeferino Vaz, fundador e primeiro reitor da universidade. Em entrevista ao Correio Popular, Knobel traça um balanço de seus primeiros 12 meses de gestão, lembra as medidas impopulares tomadas para tentar reduzir o déficit no orçamento e traça as perspectivas futuras para as áreas de ensino, inovação e pesquisa que circundam a Unicamp.
Correio Popular – Seu primeiro ano como reitor da Unicamp foi marcado pela tomada de decisões difíceis, como o aumento do valor da refeição no bandejão de R$ 2 para R$ 3, a não concessão de prêmios em pecúnia do ano passado e a paralisação de abertura de concursos públicos para novos docentes e pesquisadores. Que balanço faz deste início de trabalho na administração?
Marcelo Knobel – Tivemos aprendizados, mas não tivemos muito tempo. Foi preciso puxar o freio de mão em relação a gastos e fizemos algumas mudanças muito rapidamente, muitas delas fortes e até impopulares dentro da comunidade. Mas o importante é que conseguimos uma recuperação considerável da economia da universidade. Ainda não atingimos o equilíbrio financeiro, mas estamos no caminho. Revisamos contratos, processos, suspendemos novas contratações e agora com a recuperação da economia buscaremos consolidar as ações que traçamos mesmo com recursos limitados e acredito que alcançaremos as mudanças estruturais que necessitamos.
Acredita que algumas das medidas impopulares que tomou possam ter desgastado seu trabalho ainda no primeiro ano de gestão?
A Unicamp necessitava buscar um equilíbrio a todo custo. O bandejão, por exemplo, não tinha um reajuste há 20 anos e a universidade vinha subsidiando um valor considerável que não tinha mais como sustentar nos dias de hoje. A redução linear de 30% no valor das gratificações. dentro da universidade também teve bastante repercussão. Muitas vezes temos que olhar para a perspectiva completa e fazer aquilo que é preciso, e não o que gostaria de fazer.
Foi um ano de cortes de despesas e reajuste de tarifas, mas foi possível também implementar coisas novas?
Não deixamos de fazer coisas novas. Criamos a Instituto de Estudos Avançados (IdEA), criamos a da Cátedra Sérgio Vieira de Mello de Refugiados e já demos início à discussão de reforma curricular. Ideias como um todo aqui na universidade não faltam, mas elas têm um custo que nem sempre permitem que sejam implementadas pela situação delicada que vivemos. Estamos passando por um trabalho de formiguinha, de recuperação. Não é fácil trabalhar no sentido de conter gastos e ao mesmo tempo buscar mais recursos.
Quando completou seis meses na função de reitor, o senhor afirmou que a crise financeira vivida pela Unicamp é dramática. Acredita que a situação continua caótica?
Caótica não, mas dramática sim. Estamos trabalhando com perspectiva de déficit na casa dos R$ 280 milhões neste ano, que ainda passará por revisão orçamentária, mas é um déficit imenso. Não podemos dizer que a situação é tranquila.
A Unicamp fechou o ano passado com déficit de R$ 209 milhões, valor abaixo dos R$ 290 milhões que eram projetados para o período. Apesar das contas no vermelho, são números a serem comemorados?
Quando se está no regime de déficit, qualquer redução tem que ser comemorada, e nós fizemos um trabalho muito forte na universidade para reduzi-lo. Tivemos uma pequena melhoria da economia, não significativa, mas toda universidade fez um sacrificio para reduzir. No âmbito geral, é um cenário bem difícil. Basta ver que na Unesp tiveram dificuldade para pagar o 13º salário dos funcionários e a USP chegou ao seu limite com um plano de demissão voluntária.
A Unicamp aparece como a melhor da América Latina em 2017 segundo um dos principais rankings internacionais de universidades, o THE (Times Higher Education). Tão difícil como alcançar este posto, é se manter nele. O que tem sido feito e investido para que a Unicamp mantenha este status?
Os rankings refletem um pouco a força das universidades, não só a Unicamp, mas USP e Unesp que também foram muito bem representadas e mostram a força do ensino superior do Estado de São Paulo. Temos buscado sempre aprimorar a infraestrutura de pesquisa e feito um esforço para internacionalizar cada vez mais a universidade em suas pesquisas e experiências para os nossos professores.
Fonte: Correio Popular (Imagem: Cedoc)