STU – Sindicato dos Trabalhadores da UNICAMP

| Artigo | Mulheres em Ação: o protagonismo das mulheres no cinema

O mês em que celebramos a luta da mulher está chegando ao fim, para marcar essa importante luta apresentamos o artigo da diretora da Fasubra, Adriana Stella (*).

No artigo, a companheira traça um perfil sobre o papel que a mulher tem ocupado no cinema recente no seguimento de “contos e heróis” (Marvel Comics/Disney) e sua relação com as lutas classista e feminista. Guerreiras, princesas, poderosas, frágeis… quem são elas no cinema atual e o que elas nos ensinam sobre empoderamento feminino? Confira abaixo a íntegra do artigo.

 

MULHERES EM AÇÃO: O PROTAGONISMO DAS MULHERES NO CINEMA

Resultado de imagem para pantera negra mulheresA clássica fórmula dos filmes em que um herói ou príncipe precisa salvar a indefesa e frágil mocinha já não rende tantos lucros à indústria cinematográfica. Por isso, muitos filmes passaram a colocar mulheres para protagonizarem a ação sendo as personagens principais.

Imagem DivulgaçãoAlguns destes filmes fazem até uma transição do homem para a mulher, como é, por exemplo, o filme “Logan”, cuja personagem que vai substituir o ator é uma mulher tão habilidosa quanto Wolverine. Outros filmes optam por recriar as histórias, substituindo cenas por mulheres como protagonistas. Assim, por exemplo, é o filme “Caça fantasmas” que foi reeditada em uma edição feminina ou mesmo recriações de contos de fadas que retiram o protagonismo do príncipe encantado.

Sem príncipes encantados são filmes como Malévola, que mostra que o amor verdadeiro não surge de nenhum príncipe e o desenho infantil “Valente” que coloca em xeque que mulheres precisam de homens habilidosos para se casar a fim de protegê-la.

Até filmes que têm como personagem principal homens, colocam mulheres em papel de destaque. É o caso de “Doutor Estranho”, que aprende suas lições com uma mulher ou mesmo o filme “Pantera Negra” que, dando ênfase à questão racial, também destaca o papel das mulheres com três mulheres negras cujo protagonismo é similar ao do ator principal e são fundamentais ao enredo.

Nesta recriação dos papéis femininos, até personagem Barbie ganhou bonecas morenas, ruivas, negras, uma versão “gordinha” e várias profissões, com o slogan de que “você pode ser o que quiser”. Estas recriações buscam responder à frase usada no movimento: “lugar de mulher é onde ela quiser”. E isso foi levado à indústria cinematográfica em filmes recentes da trama Star Wars, da Marvel e DC, desenhos da Disney e toda a produção que é voltada para a “família”, bem como nos já conceituados filmes “cults”.

Há um grande repertório cinematográfico neste sentido e os desenhos infantis ganham destaque, pois são parte da formação da futura geração de adultos. Nos desenhos, há vários exemplos de meninas protagonistas, como “Dora, a aventureira”, “O show da Luna”, “Frozen”, “Princesinha Sophia” e tantos outros. Também nos desenhos a questão racial e as mulheres negras ganham protagonismo como em “Doutora Brinquedos”, cuja personagem principal é uma menina negra médica e nas princesas que podem ser negras ou latinas com seus cabelos cacheados ou não, como em “Moana”, “Princesa Elena” e “A princesa e o Sapo”, retratando mulheres fortes, inteligentes e corajosas.

Seguindo essa mesma lógica de papéis das mulheres, se por um lado as mulheres assumem protagonismo, por outro, exige que homens cumpram atribuições que até então eram consideradas “femininas”. Isto em geral está representado em cenas que mostram homens fazendo serviço doméstico como no desenho “Peppa Pig” e outras cenas “cotidianas” das famílias em que os homens além de cuidar da casa, cuidam das crianças e as mulheres trabalham, são “chefes” ou estão em posições de comando e outras várias ações.

Assim, tanto no drama, ação, aventura, suspense ou comédia, muitos filmes buscam eliminar o terror da opressão que as mulheres sofrem. Mas só trabalham esta ótica porque já não aceitamos mais a opressão e queremos ser retratadas como as personagens principais das nossas histórias, as donas das nossas ações. Então, se até o cinema busca romper com a “mulher frágil” ou “sensível”, nos questionamos: “a arte imita a vida ou a vida imita a arte?”.

 

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

A indústria cinematográfica é parte da formação de valores e é utilizada como forma de passar ideologias. Mas, para que possa entrar em nossas mentes, precisa também “dialogar” com o público, ou seja, representar aquilo que as pessoas querem ver. É neste sentido, que o avanço da afirmação de que as mulheres são iguais aos homens e devem ser protagonistas das suas vidas que os filmes e desenhos passam a trazer essa representação feminina com destaque.

Porém, como os desenhos, filmes, novelas, séries e todos os programas que vimos na TV estão cumprindo um papel de incutir valores nas nossas mentes, é também necessário refletir que nada disso rompe com a lógica da opressão. Isto porque, além de termos os filmes que as mulheres são protagonistas, ainda há milhares de enredos que em maior ou menor grau continuam expressando papéis sociais impostos às mulheres.

Mas sem dúvida o principal problema está no fato de que os filmes jamais mostram: o problema objetivo, material das mulheres trabalhadoras está na sua condição de exploração. Isto porque todas as mulheres sofrem com a opressão, porém, as mulheres trabalhadoras além de sofrerem com a opressão, estão submetidas à exploração do trabalho.

 

Os dramas da vida real: a opressão e exploração da mulher trabalhadora

Se nas telas do cinema são mostradas mulheres fortes e poderosas, na vida real essa força e coragem é usada para superar as dificuldades que nós mulheres trabalhadoras sofremos. Isto porque a combinação da exploração do trabalho junto com a opressão faz com que condição de trabalhadora que nos coloque obrigações que devemos superar, como a dupla ou tripla jornada de trabalho, os baixos salários, os empregos mais precarizados.

Da mesma forma, não temos plena condições de exercer a maternidade porque nos falta creches públicas, escolas, saúde para nós e nossos filhos. Também não podemos decidir sobre os nossos corpos, tanto pela pressão social como pelas condições objetivas que nos obrigam a conviver com uma gravidez indesejada sem poder prevenir ou abortar. Isto faz com que milhares de mulheres morram todos os anos no mundo porque elas preferem colocar suas vidas em risco ao viver sob o estigma de uma gravidez indesejada.

Mas, infelizmente, as mulheres morrem muito também por ações machistas, no chamado feminicídio. O feminicídio é o assassinato de mulheres por sua condição de mulher e acompanhamos diariamente vários destes casos, que são formas de violência contra a mulher. Violência que é física ou psicológica e que existe tanto na violência doméstica como no ambiente de trabalho, expresso pelo assédio moral e sexual. Uma violência que faz ser “normal” que as mulheres possam ser estupradas, que possam ser agredidas e até ser morta.

Quando tudo isso se junta com a condição material, aquela que dá o sustento das nossas vidas e dos nossos filhos, faz com que sejamos obrigadas a nos calar. Por isso muitas mulheres sofrem em silêncio, um silêncio que aos poucos têm sido rompido e ganhado vozes. Vozes nas ruas, levando multidões a se rebelarem contra a situação a que estamos submetidos. Multidões que encontram na dor e no luto a força para a luta.

 

Transformar o luto em luta e usar as velas do luto para queimar a opressão e a exploração

É por isso que nós acendemos velas em homenagem às mulheres que são assassinadas, como o caso recente da vereadora Marielle que tem arrastado milhares contra a política assassina do Estado. Marielle representa para o Estado mais um caso, mas para nós trabalhadoras e trabalhadores deve representar muito mais: a chama das velas de seu funeral devem incendiar nossa indignação com o caos social que vivemos.

Devemos exigir uma rigorosa apuração desse homicídio e prisão dos executores e mandantes e ir além: devemos exigir o fim da intervenção militar, do genocídio da juventude negra e dos feminicídio das mulheres negras. Devemos nos rebelar contra todo caos social que existe organizando as trabalhadoras e os trabalhadores para romperem com esse sistema que nos mata. Para isso, precisamos organizar uma verdadeira rebelião operária e popular para arrancar esses governantes corruptos e colocar o Estado e todas as riquezas desse país a serviço dos interesses da classe trabalhadora.

Para que Marielle se mantenha presente, precisamos colocar para fora Temer, Pezão, Crivella e todos os corruptos! Precisamos construir uma sociedade sem exploração e sem opressão, uma sociedade socialista!

 

* ADRIANA STELLA é funcionária da Unicamp (IMECC), é diretora da Fasubra – Coordenação Jurídica e de Relações de Trabalho, ex-diretora do STU e militante do coletivo Base de Luta (PSTU/CSP Conlutas).

 

Banner/Imagem: https://pt.freeimages.com (Aldo Peralta e Christian Wagner)

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